quarta-feira, 11 de julho de 2007

De que serviria gritar?

Da janela do terceiro andar olhava o vulto sumir aos poucos pela rua vazia. A rua descansava um descanso que não era seu, observava os detalhes, as casas ladeadas com cores coloridas, um latido ao longe, os telhados vermelhos, a obra inacabada, as árvores dançando, o vento cortante trazer as vozes da noite. A luz âmbar dos postes escorria pelos vidros das janelas, o dourado artificial da noite prendia seu olhar. Os carros estacionados pelo caminho se aconchegavam nas suas sombras. Queria fazer parte de algo da rua para não se atormentar com os porquês do fim, ansiava esquecer tanta angústia. Sentia inveja da calma madrugada. Sua respiração cada vez mais ofegante embaçava a vidraça. Olhou o vidro úmido e escreveu: Murilo. Observou o nome, beijou, olhou outra vez e riscou um “x” com o dedo indicador. Voltou para a sala pouco iluminada, ligou a vitrola e colocou o Prelúdio de Bach. Deixou a música entrar e sair pelo seu corpo esmagando a dor que furava seus ossos. Aos prantos e em frenesi, rezou e orou a Ave-Maria até adormecer. De manhã se deu conta que dormira na cadeira dura. Era sua penitência, sua redenção. Levantou-se em direção ao banheiro, vomitou sua agonia, tomou uma ducha forte.. Recomeçou do zero.

4 comentários:

  1. Me agrada a possibilidade de ler você todas as manhãs e todos os dias. Sem comnetários este último poste. Selena, sensacional! Demais!

    ResponderExcluir
  2. Suas palavras escorrem como vinho seco na garganta sedenta depois de um TEXTO de CATEGORIA.Há dias assim, a inspiração é maior e a vontade é nula.
    Estou devendo mais comentários aqui.

    abraços

    ResponderExcluir
  3. Sem vencedores nem vencidos, mas algumas lembranças amargas na memória.

    gostei daqui.
    Ana Maio

    ResponderExcluir
  4. Dá nela dooooooorrrrrrrrr..
    Belíssimo!

    ResponderExcluir

Deixe o seu soninho que assim que o sol se levantar lerei com carinho.

Eu

Simplesmente Selena