sábado, 26 de julho de 2008

OS MEIOS ALTERAM O FIM

As coisas são claras. Em todo estado crítico da sensação de injustiça, desgosto, insegurança, vaidade ou amargura que possibilitamos experimentar, literalmente podemos pisar na bola. Mas o mais incrível que possa parecer é que mesmo transgredindo ao que nos firma ao chão, ao que nos move do bem para o bem, ainda somos capazes de macular nossos princípios morais por: raiva, desesperança, despeito, vingança, insensatez, rancor ou maldade. Somos falhos pela própria natureza!
E, no entanto, algo que acreditamos ser – para aquele momento – cai por terra e põe à prova toda nossa junção de valores; estes marcarão nossa história e filosofia de vida para sempre. Traímos. Somos traídos. Entretanto, quando o traidor somos nós a dor é dilacerante e assombrosa, pois dentro de nossa essência fica o sentimento de não ter traído só o outro, mas a si próprio. A consciência é algo quase material, sai de nossas cabeças e se lança frente a nossa face com um olho interior tenebroso e inquietante. Olha-nos de cima para baixo com a propriedade soberana de quem salienta o bem e o mal; e então: despencamos.
O remorso parece ter fibras nervosas que causam dor física e moral, e nesse instante a cena sai de nós para revermos o passo-a-passo como a um panorama. Visualizamos toda a dramática do cenário com algum distanciamento: a confluência da Consciência do nosso EU por si mesmo martelando a pequena frase ''conhece-te a ti mesmo''; a Ética que deixamos em um canto obscuro e que vem mostrar sua cara lavada, tão cristalina que encandeia nossos olhos; e o sentimento de Culpa aterrorizador. Este é o tripé sobre o qual revisita nossas crenças e nos deixa na lona. Obviamente é na adversidade onde deparamos com nossa raiz mais oculta. Posteriormente avaliamos o peso do que produzimos e a máscara cai. Nessa ocasião, nos sentenciamos e compreendemos que os meios não justificam o fim.., e daí pensamos: "- É a ruína!, preciso consertar o prejuízo, mas e agora, cadê a coragem de destampar-me ao outro para ter minha liberdade de volta?"...
Por vezes levantamos uma bandeira qualquer... Fazemos, acontecemos e sopramos nossas frágeis convicções, todavia o buraco é fundo e a agonia também. Existem primitivos e latentes sentimentos que responsabilizam o que realizamos. Somos modelados pelas vivências e, podemos sim, cair em contradição ao que antes afirmamos ser. Tantos vícios camuflados nas forças do acaso. Fatos que outrora nos magoaram convergem ao ego insaciavelmente suicida - dia a dia -, empurrando a sermos instrumento para o mal. Acreditem! Não falo com arrogância nem com caráter esnobe, na verdade sinto a necessidade de dissecar esse assunto que, faz parte das nossas relações tão humanamente humanas. Do mesmo modo, exploro certo discernimento para enxergar que somos objeto de tantas imperfeições e calcanhares de aquiles. Eu fui prova viva! Endureci e amoleci de acordo com minha auto-estima.
Sabe-se que nós, seres humanos, vez ou outra nos transformamos no que o outro faz de nós; nosso homem exterior se tiraniza, e em seguida nosso homem interior se renova. A corrente do bem lutando contra o mal. E porventura para satisfazer e acariciar a nossa profunda insignificância, discorremos o fio condutor acerca do outro para camuflar uma risível mediocridade. Ali, acolá, ontem, naquele dia, naquele ano e,... paaaá... acontece: somos pérfidos. Porém, instantaneamente nos arrependemos e,... plaafht... já foi! Acabou-se o que era doce... O vento se encarregou de levar as dispensáveis palavras aos ouvidos de quem não tinha dignidade para contá-las e nem ouvi-las...
Com o passar dos dias cortamos dobrados, sofremos, agonizamos. Neste meio tempo, a culpa se faz em nós mais presente e mais disposta que o caráter duvidoso: uma Senhora absoluta que instiga à assumirmos os riscos da nossa irresponsabilidade. Percepcionamos que tal ação repudiosa não pode deixar atrofiar nossa última “folegada”, e além do quê, carecemos chutar a verdade para frente. Nada na vida dá garantia de ser leal sem limites ou medidas o tempo inteiro. Ainda mais quando nos sentimos ressentidos e inferiores em alguma situação que muito nos feriu.
Ainda assim, mesmo com todos os percalços do antes e durante, precisamos caminhar para o depois a fim de pagar o ônus e ajustar o prejuízo a qualquer preço! Meditabundos..., viajamos ao nosso interior e lá bem no fundo enxergamos nossos atos, ações e omissões. Denunciamos e encaramos de frente os nossos intestinos e sentimos enjôo. Nesse ínterim, entendemos que a partir de certa idade as palavras e entrelinhas já não são mais inocentes, cujas podem fazer gotejar sangue. Admitimos a dor que causamos e que em alguém sangrou: então o arrependimento galopa em nós perfurando nossos orgãos vitais. A auto consciência executa pena de morte; ela pode ser doce e amarga e daí assinamos o nome embaixo do desvio da rota. Nossa vergonha é mortal, mas o arrependimento é libertador. Decerto as cicatrizes do corte irão demorar suavizar, mas servirão para fortalecer a casca. E, não obstante, a homeostasia, esta sim, vai predominar... É a natureza humana. Nem mais. Nem menos.

Eu

Simplesmente Selena