quarta-feira, 20 de agosto de 2008

E viva a terapia do vômito...

Há dias estou a concluir a teoria sobre os blogues que saturam o espaço cibernético, e ainda assim reluto em manter o meu querido “osonodosol” na horizontalidade da tela. Na verdade já me afeiçoei a ele, o que me dá em larga escala a peninha danada de me desligar daqui. Desde criança me identifiquei em contar ao papel minhas emoções. Apetecia-me desenhar minhas sensações, meus momentos, medos e alegrias. E então, sangrar todo sentimento que de mim tomava conta.
Todavia, percebo que muitos que demarcam o espaço na blogosfera não passam de ególatras cheios de si. Dependendo do meu estado de espírito posso de alguma forma me encaixar nesse contexto. Ora bolas, e por que não? A blogosfera é uma contenda incansável de ego grande. Digo isso porque, também, ao me derramar ativo meu botão massageador do culto a mim mesma. Identifico que preenche minha vaidade com mimos e, não raro, censuro-me em seguida, porém, ainda assim, não consigo deixar de carimbar minha marca de: escrever, escrever e escrever; talvez esta seja a forma mais terapêutica de não precisar pagar o analista. Ando durango pra caramba!
Imagino assim. Cada indivíduo delimita sua área própria, o monitor é um grande shopping, as lojas são os textos, os comentários são as prateleiras fervorosas da aprovação dos leitores compradores da ostentação do outro; algo como um grande salão de departamentos para pseudos intelectuais carentes de elogio.
A necessidade de se fazer valer vai de mim ao outro e assim sucessivamente no tocante a quase tudo que se expõe em sua lojinha de auto glorificação. Discorre-se sobre Razão e Ética, o bem e o mal, a esperança e a paz, cores e nomes, celebridades, política, família etc. Explodem saberes acerca de tudo e mais um pouco. Fala-se das películas de sucesso, do clássico noir, criticam-se novelas e livros. Rebuscam com superioridade rigorosa sobre amor e paixão - tema tão simples e sem delongas. E para inflar peitos de pombo: divagam-se sobre os diálogos de Platão; a última sinfonia de Beethoven; o Rei da valsa, Johann Strauss; o romântico Dom Quixote de La Mancha; discutem Dante em sua Divina Comédia e por aí vai as tantas teatralidades virtuais.
No entanto, será que nessa estratégia da multiplicação de visitantes, o blogonauta é, de todo, sincero? Será que esta supervalorização de si mesmo cria valor conseqüente para o leitor? Eu mesma quero saber quantas pessoas me visitam por dia e gosto ainda mais quando me respondem um texto por e-mail. Seduz-me. É bom para o moral. Mas será que atingi meu fiel objetivo?
Cada blogue jorra do estômago a famosa frase: “espelho, espelho meu, qual será outro com o umbigo mais bonito que o meu...?”. E eu cá na minha mercearia pequenina enveredo por essa vertente curiosa e - quiçá também, sou uma “persona non grata” a escrever para eu, para tu e para ele; para poder sair de mim e voltar a mim. E neste despejar “marromeno” de iguarias, me revisito a cada vendagem de palavras aprendendo a apartar-me do ego encapsulado. Que assim seja.

Eu

Simplesmente Selena