sábado, 2 de janeiro de 2010

dos anos que me desnudam...

Era janeiro. Houve uma briga por minha causa, pelo menos eu acreditava que a causa era eu. E era. Penso que tinha seis ou sete anos. Uma das minhas tias me batia sem dó; outra me protegia como as fêmeas guardam seus filhotes. Corri assustada para detrás da cadeira da Didi - meu anjo da guarda, enquanto o anjo feroz e sedento (não citarei aqui seu nome) serpenteava pra me pegar naquele ínfimo cantinho. Eu morria a cada segundo, mas ela babava de ódio e preconceito. Uma criança nunca esquece! Meu anjo da guarda não agüentou ver meu estado fragmentado, abraçou-me forte e deu uns bons tapas naquele demônio, e ainda assim, eu me sentia toda quebrada por dentro. Meus olhos ferviam as passadas lágrimas. Sim, eu chorei muito. Estava sem forças para recorrer conforto do seu colo tão doce. Didi era antenada como uma águia, farejava a crueldade medonha da outra, e me defendia com vigor. Foi uma época doída. Eu respirava, pois me era condicionado. Minha alma vagava pela casa com o temor de quem não sabe por que vai apanhar, o anjo mau era sôfrego e lutava pra me aniquilar. Sobrevivi para sua intolerância graças a Deus e ao amor incondicional de meu anjo bem, a querida Didi! Ah, e de uma coisa jamais esquecerei naquelas férias: a canção Eu quero, de Sérgio Bittencourt rolando na vitrola. Foi um dos tantos hinos daquela era... e marcou.

Eu

Simplesmente Selena