segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

recuerdos...

Quando criança tinha medo de palhaço, de espantalho, de bruxa, de tambor, de máscara, de fantasma e, do Patrona; este, era um pedinte de mais ou menos cinqüenta anos. Vez ou outra serpenteava pelo bairro vestido de um preto absoluto carregando um saco branco de tecido. Passava o dia a pedir esmolas, uma xícara de açúcar aqui outra de arroz acolá. Eu achava que o saco tenebroso que carregava era para esconder as criancinhas que roubava, ou seja, as crianças do local. Meu Deus!, um medo retumbante me invadia quando ele dobrava a rua. Corria com as minhas amiguinhas que nossos pés batiam em nossas bundas.

Sabe-se lá seria mesmo um seqüestrador de menores, a treva! Tinha uma vestimenta medonha: terno e calça pretos, camisa marrom escuro, óculos escuros, sapatos e meias e um chapéu também preto. Parecia um ser surreal, quiçá, a morte. Lembro como se fosse ontem o homem virando a esquina, mais ou menos uns cem metros de distância, mas não assegurava em diminuir nosso medo. A sensação era terrível e arrepiante só de olhar aquela figura macabra tirada de um filme de terror. Tenho a impressão que só aparecia em dias atípicos, daqueles bem cinzentos, fechados e com leve chuvisco; do qual aumentava ainda mais meu pavor.

Hoje voltando àquela época, esse episódio se apresenta nas minhas recordações mais vivas. Fica uma réstia de saudade, e antes de tudo, a curiosidade real de saber quem era a tal pessoa tão sombria: onde morava, o que pensava, o que sentia, se tinha filhos, mulher, cachorro, periquito, papagaio... quem era o Patrona, do qual nós mesmas o apelidamos? Nunca descobrimos nada sobre aquele senhor. Coisas de nossas vivências mais inesquecíveis... infância...

Eu

Simplesmente Selena