Era maio de 1984, e mês das mães. Eu esperava quem não parava quieta em meu ventre. Foi um parto difícil, demorado e você veio a fórceps: grande, saudável e chorando alto. Catarina minha filha, você nasceu roxa e quase sem ar. Tinha o cordão umbilical envolto ao pescoço, mas veio com tanto vigor nos pulmões que nada a impediriam de ser valente e guerreira. E entre mimos e cuidados assim desabrochou.
Está voando. Estou envelhecendo. Amanhã já é seu aniversário, meu amor querido. Faz exatamente 26 anos que em mim também nasceu o riso mais sublime e terno. E em dias como estes de hoje, torno-me mais sentimental e reflexiva. Procuro nos anos que vivemos juntas os momentos mais alegres e intensos. Não me interessa momentos chatos e de dor. Eles servem para fortalecer a casca, mas não devem ser lembrados. Acompanhei você de cima a baixo, de largo e comprido, no avesso e no direito. Fui amor e doação. Fui megera indomada. Fui cuidado extremo. Fui severa. Fui presente. Fui mãe. Aliás, ainda sou. E nesse co-existir o mosaico de sua vida crescia diante de mim. Formavam-se nuances... você adolescia.
E eu? Ah, filha. De que importava eu se você era o meu mundo! Porque a primeira noite que passamos juntas ainda está impregnada em minha memória. Eu não dormi. Juro! Varei quase toda a madrugada de pé porque você chorava. Era uma marinheira de primeira viagem que começava ali sua plenitude. É inexplicável o universo incondicional. Relembro esse instante com o coração apertado de saudade. Estava fraca do parto, mas uma robustez me impelia a não deixá-la um só minuto. E foi assim que eu fiz. E assim deu certo. Pena que não pude parar o tempo, e por mais que a desejasse colada a mim, eu não poderia parar o tempo. Você é pedaço meu, mas é dona de suas escolhas.
Comove-me acompanhar sua história se delineando, colorindo os ladrilhos que você mesma vai construindo a cada dia; sua assinatura de esperança e fé. O palmilhar de sua própria vida. Admiro sua sabedoria incipiente, seu humor inteligente, seu bom caráter... basta olhar. É visível tanta simplicidade, calor, amor; os nacos vão-se misturando em sua personalidade guache que a moldam ao tipo de pessoa que faz a diferença. É seu sorriso lindo tal aquarela a presentear alegria a quem o recebe. É sua postura firme. É sua doçura. É você, minha menina! Vai linda, toma a vida pela mão, é assim mesmo, pinta e a escreve, faz seu caminho cheio de graça, pois cheia de luz você é. Iluminada. Brilhante. Estrela de si.
Depois de uns dias sem postar estou voltando aos poucos. Devagar, divagando, devagarinho, divagandinho...
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Deixe o seu soninho que assim que o sol se levantar lerei com carinho.